O Organista

O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Lucas 2:10, 11

Era véspera de Natal, em 1942. Alemães e aliados haviam feito uma trégua, mas a cidade de Warrington, na Inglaterra, estava às escuras, como se esperasse um ataque aéreo naquela noite fria.
O padre Richard Rochford deveria rezar a missa da meia-noite na Igreja de Saint Mary, e soldados e civis tatearam pelas ruas escuras até chegarem à igreja. Às 23h30 havia lugar apenas nas três primeiras fileiras, que estavam reservadas.
Dez minutos antes de começar o serviço, as portas da frente se abriram e uma fila de prisioneiros alemães e italianos, escoltados por guardas americanos e ingleses armados, marchou pelos corredores e ocupou os assentos vazios.
Pouco antes da meia-noite o padre Rochford ocupou o púlpito e com a voz embargada explicou que, infelizmente, não haveria música de Natal desta vez, pois o organista havia ficado doente. Um suspiro de desapontamento se ouviu na congregação, e então todos ficaram em silêncio.
Nisso, houve certa agitação entre os prisioneiros alemães, e a congregação ficou alerta para ver o que aconteceria. Um prisioneiro se ergueu e falou com um guarda. Então, escoltado pelo guarda, o prisioneiro caminhou até o altar, inclinou-se perante o padre e assentou-se ao órgão.
Um ar de expectativa encheu a congregação. Será que aquele prisioneiro sabia tocar? Ou pretendia criar confusão e mostrar desrespeito?
Mas logo os maviosos acordes do hino “Noite de Paz” encheram o ambiente, deixando os presentes enternecidos. Eles nunca haviam ouvido alguém tocar essa música com tanto sentimento. Era como se o espírito de Cristo estivesse fluindo dos dedos do organista naquela noite, penetrando no coração dos ouvintes.
O organista continuou tocando os belos e tradicionais cânticos de Natal, levando a multidão às lágrimas. E durante todo o tempo, o guarda permaneceu ao seu lado, com o rifle apontado para o seu coração. Não se poderia imaginar uma cena mais contraditória num momento tão solene.
Ele finalmente parou de tocar e voltou para junto dos demais prisioneiros. O padre então se ergueu e disse: “Este jovem prisioneiro de uma nação inimiga demonstrou, hoje à noite, que os verdadeiros laços de amor, que exemplificam o espírito do Natal, são superiores aos conflitos humanos” (H. N. Ferguson).

Que esse espírito reine em seu coração hoje e sempre.

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